Lixo e carros se aglomeravam nas calçadas de Santos
Rafaella Ferreira/Arquivo Pessoal
Lixo e carros se aglomeravam nas calçadas de Santos

A forte tempestade que castigou as cidades da Baixada Santista, na quarta-feira (6), transformou a rotina dos moradores em um cenário de caos, com ruas alagadas, carros submersos, sacos de lixo flutuando pelas vias e canais transbordando. A jornalista Rafaella Ferreira vivenciou os transtornos causados pela chuva recorde, ao mesmo tempo em que cumpria a missão de informar a população.

São Vicente, Guarujá e Santos registraram problemas devido ao temporal. Mas os santistas foram os mais atingidos devido à greve dos coletores de lixo que durou cerca de uma semana. Garagens subterrâneas foram inundadas, assim como a parte térrea de alguns prédios. A maré alta contribuiu para agravar o problema.

Uma luta contra a água para chegar ao trabalho

Na quarta-feira, a jornalista saiu de casa por volta das 5h30 para um trajeto de cerca de quatro quilômetros até a rádio em que trabalha. Apesar de ver que a chuva estava muito forte ao se aproximar de um canal, o de número seis, ela arriscou, com medo de o carro falhar, mas seguiu o caminho. A cidade de Santos é cortada por diversos canais, que são usados justamente para que a água da chuva não acumule nas ruas, o que não aconteceu durante o temporal.

"Eu vi que estava muita chuva. Comecei a ficar com medo do carro falhar, mas como eu vi que o carro estava indo, fui seguindo. Quando percebi que não dava mais, tentei parar em um posto de combustível, mas não tinha espaço e segui até uma farmácia, todos na avenida do canal. Cheguei por volta das 6 horas no local que foi meu abrigo”, conta. O caminho teria sido feito em menos de cinco minutos em um dia sem chuva.

Jornalista perdeu a placa do carro ao passar por alagamento
Rafaella Ferreira/Arquivo Pessoal
Jornalista perdeu a placa do carro ao passar por alagamento


Nesse percurso ela acredita que perdeu a placa do carro. Rafaella usou as redes sociais para pedir ajuda dos amigos para encontrar o objeto. “Foi nesse ponto, no canal 6, que a placa foi encontrada por uma amiga, e eu economizei 650 reais! Seria o valor de uma nova placa”, explica. 

A missão de informar acima das dificuldades pessoais

Mesmo sem conseguir chegar à rádio por conta dos alagamentos, Rafaella manteve a calma e o foco em sua responsabilidade jornalística. Ela conta que se comunicava com a equipe, a chefe, o produtor e o outro apresentador - que também não conseguia chegar na rádio. De dentro da farmácia ela conseguiu apurar as informações com a prefeitura, Defesa Civil, e fez entradas ao vivo entrevistando outros moradores da cidade e trazendo todos os dados sobre o que estava acontecendo.

"A gente, que é jornalista, não vê a nossa dificuldade, pois a notícia está rolando. Você fica naquele tino de preciso contar para as pessoas o que está acontecendo, preciso ajudar de alguma forma, falar de rota alternativa, prestar serviço, e esqueço o nosso problema", afirma.

Ela também enfatizou a importância de pensar nas pessoas que estavam na rua, dependendo de transporte público, ou aflitas em casa, com os preços altos dos aplicativos, enquanto ela estava "privilegiada” dentro de um carro, da farmácia, coberta.

O programa é realizado das 6h às 8h, e Rafaella participou de forma remotada durante toda a duração. Mesmo após o fim do jornal, a jornalista só conseguiu chegar em casa por volta das 10h30, quando a água da rua começou a abaixar.

Equipe JMix em um dia tranquilo na redação da rádio
Arquivo
Equipe JMix em um dia tranquilo na redação da rádio


A jornalista ressaltou que nada seria possível sem a equipe, que também enfrentou desafios para cumprir suas funções. O apresentador Osvaldinho Stuchi, o produtor Marcelo de Castro e a diretora Aurea Faria fazem parte da equipe que conseguiu noticiar todos os detalhes da chuva.

Com quase seis anos na Rádio Mix, e uma vasta experiência em coberturas de chuva desde quando iniciou a carreira como repórter na TV Record, Rafaella já havia enfrentado dezenas de alagamentos. Ela relembrou episódios anteriores, como em 2011, quando cobriu uma enchente em São Vicente, no Catiapoã, e o carro da empresa ficou praticamente todo submerso. “Foi uma sensação desesperadora”, conta. Anos depois o carro pessoal passou pelo mesmo problema, também em São Vicente.

Santos submersa: números da chuva e o impacto da greve

O volume de chuva que atingiu Santos foi sem precedentes. Segundo a Defesa Civil do Estado de São Paulo, choveu 121 milímetros em Santos em 24 horas, o que representa o triplo do esperado para o mês inteiro, cuja média era de 40.39 milímetros.

Rua alagada em Santos após forte temporal
Rafaella Ferreira/Arquivo Pessoal
Rua alagada em Santos após forte temporal


O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) registrou 119,2 mm em seis horas em Santos, um dos maiores índices em todo o estado no mesmo período, e quase o total da média histórica de chuvas para todo o mês de agosto, que é de 122,2 mm. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) chegou a emitir um alerta amarelo de perigo potencial.

A cidade enfrentou alagamentos em praticamente todas as principais vias, incluindo pontos na praia após a Avenida Cons. Nébias, Canal 3, Rua Governador Pedro de Toledo, vias da Vila Mathias, Canal 2, Canal 4, Av. Martins Fontes, Av. Nossa Senhora Fátima, Av. Francisco Manoel, Av. Rangel Pestana e Canal 1.

A CET-Santos chegou a emitir um alerta pedindo à população que evitasse sair de casa e não tentasse transitar por áreas alagadas, tanto a pé quanto de veículo. As atividades em centros esportivos foram canceladas, assim como o expediente em escolas e consultórios médicos.

Um fator que agravou a situação foi a presença de sacos de lixo espalhados pelas ruas, devido à greve dos trabalhadores da limpeza urbana na Baixada Santista. Embora equipes da Prefeitura de Santos tenham atuado para retirada de resíduos, a quantidade de lixo obstruiu as grelhas de drenagem.

Próximos dias

De acordo com a prefeitura de Santos, a previsão para essa sexta-feira (8) é uma nova frente fria, que deve avançar trazendo pancadas de chuva durante o dia. No sábado (9), a previsão é de chuvas durante todo o dia, com intensidade variando de fraca a moderada.

Com relação ao nível do mar, a maré poderá alcançar 1,9m em toda a região de orla da Baixada Santista e 2,2m no interior do estuário de Santos, com altura máxima prevista para sábado às 15h, representando aumento de até 40cm em relação à tábua de marés.

Segundo o Plano Municipal de Contingência para Ressacas e Inundações, o estado da cidade é de atenção na região da orla. Já na região do estuário é de alerta.

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