Paleontólogo vive na Baixada Santista há 40 anos
PaleoZOO/Reprodução
Paleontólogo vive na Baixada Santista há 40 anos

O imaginário popular muitas vezes associa dinossauros a paisagens distantes ou a superproduções cinematográficas, mas você já pensou na possibilidade de essas criaturas pré-histórica s terem habitado o litoral paulista? O biólogo, paleontólogo e museólogo, Felipe Alves Elias retrata essa jornada fascinante no livro "Animais Pré-Históricos do Brasil: O Guia Ilustrado".

Nascido na capital paulista, mas morando no litoral há 40 anos nas cidades de São Vicente e Santos, o especialista traz uma perspectiva única sobre a rica, mas muitas vezes desconhecida, história paleontológica do Brasil. O interesse do autor nasceu ainda na infância, quando era apenas um garoto apaixonado pela vida selvagem, que cresceu na praia, envolvido pela natureza.

"Com o tempo descobri a vida pré-histórica por meio de enciclopédias que minha mãe colecionava em casa. Gastava parte do meu tempo tentando reproduzir as ilustrações dos animais fósseis que via nesses livros. Nos anos 80, época da minha infância, não tínhamos internet, então o conhecimento vinha dessas coleções, e também das revistas e fascículos vendidos em bancas de jornais", relembra o paleontólogo.

O assunto ficou mais comum com a chegada dos filmes. "Esse interesse maior da população surgiu nos anos 90, por conta dos grandes sucessos da TV e cinema. Nesse período já era adolescente e descobri que se quisesse seguir carreira em uma profissão dedicada ao estudo dos fósseis, precisava cursar Biologia ou Geologia. Acabei escolhendo a primeira opção, e fiz minha graduação", completa.  

Especialista escreveu o guia após cinco anos de pesquisa
PaleoZOO/Reprodução
Especialista escreveu o guia após cinco anos de pesquisa


O que a Baixada Santista e o Vale do Ribeira guardam do passado?

De acordo com o paleontólogo, a região pode ter sido o lar de uma grande diversidade de espécies pré-históricas, incluindo dinossauros. Essa realidade remonta a cerca de 120 milhões de anos, quando a América do Sul e a África formavam uma única massa de terra, o supercontinente Gondwana, sem o Oceano Atlântico, permitindo a livre circulação de espécies.

"Por volta de 120 milhões de anos esses continentes se separaram, e o Atlântico se formou. Surgiu assim o nosso litoral paulista. O processo de separação continental foi intenso, e o remodelamento das rochas provavelmente destruiu a maior parte dos registros fósseis dessa fauna. De lá para cá nossa geografia não favoreceu a preservação de nossos registros, por isso nossa área não oferece muitas oportunidades para encontrarmos fósseis interessantes. Temos, contudo, registros de rochas com fósseis em áreas submersas da nossa costa, na chamada Bacia de Santos", explica Alves.

O especialista detalha que entre as espécies que podem ter vivido na Baixada Santista há milhões de anos, estão espécies marinhas e mamíferos.

Biólogo e paleontólogo, Felipe é responsável pelas ilustrações do livro
Reprodução/Felipe Alves Elias
Biólogo e paleontólogo, Felipe é responsável pelas ilustrações do livro


"Já foram descobertos restos de peixes e outros elementos de vida marinha antiga. Infelizmente essas rochas só podem ser acessadas por meio de sondagens submarinas, um processo desafiador e que demanda grande investimento. No Vale do Ribeira temos muitas grutas e cavernas da região do Petar, onde já foram encontrados fósseis mais recentes, de grandes mamíferos como preguiças gigantes e tigres-dente-de-sabre", relata.

Confira três espécies que já foram registradas na região

O tigre-dente-de-sabre (Smilodon populator) foi um grande predador com caninos cortantes. Podia pesar mais de 400kg, e era ainda maior do que leões e tigres atuais. Seus fósseis já foram encontrados nas cavernas do Vale do Ribeira, onde viveu até cerca de 8 mil anos atrás.

Tigre-dente-de-sabre (Smilodon populator) foi um grande predador com caninos cortantes
Reprodução/Felipe Alves Elias
Tigre-dente-de-sabre (Smilodon populator) foi um grande predador com caninos cortantes


O Africanacetus foi uma baleia-de-bico que nadava pelas águas do Atlântico por volta de 13 e 6,5 milhões de anos atrás. Um crânio fossilizado foi encontrado solto, no fundo oceânico do litoral paulista, por um barco japonês de pesquisa.

Africanacetus foi uma baleia-de-bico que nadava pelas águas do Atlântico por volta de 13 e 6,5 milhões de anos atrás
Reprodução/Felipe Alves Elias
Africanacetus foi uma baleia-de-bico que nadava pelas águas do Atlântico por volta de 13 e 6,5 milhões de anos atrás


O Diaphus é um peixinho pequeno, que ainda pode ser encontrado em águas profundas do Atlântico. Costuma ser chamado de peixe-lanterna. Fósseis desses animais foram encontrados em rochas coletadas no leito oceânico, na chamada Bacia de Santos.

Diaphus é um peixinho pequeno, que ainda pode ser encontrado em águas profundas do Atlântico
Reprodução/Felipe Alves Elias
Diaphus é um peixinho pequeno, que ainda pode ser encontrado em águas profundas do Atlântico



A pré-história brasileira registrada em livro

O Brasil é um país de dimensões continentais e com uma imensa riqueza de fósseis, mas grande parte desses registros está oculta sob nossos biomas, lavouras e cidades. Regiões como o interior do Rio Grande do Sul, a Chapada do Araripe (CE) e o Acre são famosas por seus achados, que incluem dinossauros ancestrais, pterossauros e peixes com excelente preservação, além de jacarés com mais de 10 metros e tartarugas com cascos de 3,5 metros.

Muitos animais que conhecemos hoje, como jacarés, tartarugas e tubarões, têm uma história que remonta a milhões de anos e deixaram fósseis importantes no Brasil. Diante da escassez de materiais focados no patrimônio paleontológico brasileiro – e da popularidade de uma "pré-história" muitas vezes importada – Felipe Alves Elias dedicou-se a preencher essa lacuna. 

Biólogo com mestrado em Paleontologia (Unesp) e Museologia (USP), ele iniciou em 2005 um projeto ambicioso para tornar o conhecimento sobre nossa antiga biodiversidade acessível. O resultado de cinco anos de pesquisa e 15 anos de paleoarte – a técnica artística que dá forma às interpretações científicas sobre seres do passado – é o livro "Animais Pré-Históricos do Brasil: O Guia Ilustrado".


Lançado recentemente, a obra é o primeiro trabalho para o grande público que apresenta a diversa fauna pré-histórica brasileira, indo muito além dos famosos dinossauros. Em suas 250 páginas, o guia ilustrado traz dezenas de pranchas com representações de quase 1000 espécies fósseis que viveram em todo o país, muitas delas inéditas em ilustrações.

As imagens são acompanhadas de informações detalhadas sobre cada espécie, incluindo a localidade de seus restos, tamanho e hábitos estimados. Além disso, o livro narra a história do Brasil através das eras, mostrando as transformações territoriais, climáticas e paisagísticas em uma linguagem simples e acessível para todas as idades. O autor também é responsável por todas as ilustrações do publicação.

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